No Segundo Testamento há duas versões do
nascimento de Jesus. Uma do evangelho de Lucas que culmina com a
adoração dos pastores. A outra, do evangelho de Mateus que se concentra
na adoração dos três reis magos. A lição é: judeus e pagãos, cada um a
seu modo, encontram Jesus.
As Escrituras judaico-cristãs deixam claro
que Deus não se revelou apenas aos judeus. Antes de surgir o povo de
Israel com Abraão, revelou-se a Enoque, a Noé, a Melquisedeque, depois a
Balaão e ao rei Ciro. Os reis magos pertencem a este grupo. Quem eram
eles? Eram astrólogos vindos provavelmente da Babilônia. Naquele tempo
astronomia e astrologia caminhavam juntas. Certo dia, estes sábios
descobriram uma estranha conjunção de Júpiter com Saturno que os
aproximou de tal forma que pareciam uma única grande estrela, na
constelação de Peixes.
Desde o tempo de Kepler(+1630) os cálculos
astronômicos mostraram efetivamente que no ano 6 antes de Cristo (data
do nascimento de Cristo pelo calendário corrigido) ocorreu tal
conjunção. Para os sábios, este fato possuia grande signficação.
Júpiter, na leitura astronômica da época, era o símbolo do Senhor do
mundo. Saturno era a estrela do povo judeu. E a constelação de Peixes
era o sinal do fim dos tempos. Os sábios babilônicos assim
interpretaram: no povo judeu (Saturno) nascerá o Senhor do mundo
(Júpiter) sinalizando o fim dos tempos (Peixes). Então se puseram a
caminho para prestar-lhe homenagem. Sempre houve na história dos povos,
pessoas simples ou sábios que se puseram a caminho em busca de salvação,
quer dizer, de uma totalidade integradora. Deus foi a seu encontro nos
seus modos de ser e de pensar. Mas por que foram encontrar Jesus?
Porque, segundo a compreensão dos cristãos, Jesus é um princípio de
ordem e de criação de uma grande síntese humana, divina e cósmica.
Quando dão o título de Cristo a Jesus querem expressar esta
convicção. Esta síntese se encontra também em outras religiões sob
outros nomes: Sabedoria, Logos, Iluminacão, Buda, Tao. Estes são os
"ungidos e consagrados"(significado de Cristo ) para serem um centro atrator e unificador de tudo o que há no céu e na terra. Mudam os nomes, mas o sentido é sempre o mesmo.
Nossa realidade, entretanto, é
contraditória. É feita de elementos sim-bólicos e dia-bólicos, de
verdade e de falsidade, de bondade e de maldade. Como podemos distinguir
um do outro? Como criar uma ordem superior que ultrapasse essas
contradições? Precisamos de um Centro ordenador e animador de uma
síntese pessoal, social e também cósmica.
Os evangelistas usaram o fenômeno
astronômico para apresentar Jesus como aquele Senhor do Universo que vem
sob a forma de uma criança para unificar tudo. Essa Energia é divina
mas não exclusiva. Ela se express sob muitas formas históricas. Em
Jesus, o Cristo , ganhou uma concretização que mobilizou outras culturas com seus sábios vindos do Oriente.
Todos os caminhos levam a Deus e Deus
visita os seus em suas próprias histórias. Todos estão em busca daquela
Energia que se esconde no signficado da palavra Cristo . Esse
encontro com a Estrela produz hoje, como produziu ontem, alegria e
sentimento de integração. Haverá sempre uma Estrela no caminho de quem
busca. Importa, pois, buscar com a mente sempre desperta aos sinais como
os reis magos.
Leonardo Boff
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