Mente
Iluminada
O
trabalho do despertar da consciência é um trabalho de nível superior que exige
uma intensa atividade da alma ou, em outras palavras, da pequena porção de
consciência que expressamos no diário viver.
O
despertar é o elo central que une todas as outras disciplinas ou fatores de
revolução da consciência. Sem o despertar podemos dizer que a morte mística é
“castrada”, já que a mente não pode ver e compreender o que ela mesma criou e
teima em manter oculto e camuflado.
Para transpor certos véus que separam os
níveis mais superficiais da mente, mergulhando no inconsciente obscuro (morada
de nossos defeitos e condicionamentos), faz-se necessário desenvolver um
sentido que se expressa muito além das sensações, sentimentos e pensamentos.
Este sentido é a consciência.
Um homem pode morrer em muitos defeitos, e
ainda assim, continuar prisioneiro dos mecanismos inconscientes da mente. Pode,
também, desabrochar muitíssimas virtudes, porém não chegar a conhecer a paz e a
bem-aventurança que só a iluminação pode outorgar.
Sem a Senda da Iluminação, a alquimia sexual,
selo que sacraliza a Grande Obra, corre o sério risco de transforma-se no mais
perigoso dos instrumentos de entorpecimento da alma.
O homem desperto, iluminado, vê não só os
fatos, as pessoas e a vida como em verdade são, mas também a causa e o efeito
de todas as atitudes, palavras, atos, e acontecimentos que envolvem a
existência.
Ora, o que é o despertar e o que devemos fazer
para despertar?
O despertar é o descondicionamento absoluto e
completo da mente. A mente de um homem desperto é livre de defeitos, fantasias,
pensamentos mecânicos e inconscientes, tensões, comparações e julgamentos.
A Senda da Iluminação é a doutrina da
liberação dos processos inconscientes da mente. Quem se livra dos
condicionamentos da mente passa a viver no liminar da eternidade, aprende a
desfrutar a paz do nirvana e mergulha na sabedoria e na compaixão dos deuses.
A
principal ferramenta da Senda da Iluminação é a meditação. É a meditação que
aprofunda a percepção, tornando-a tão aguda quanto um bisturi de alta precisão.
Meditar é olhar para dentro de si. Quando
olhamos o que ocorre em nossa mente, acabamos nos dando conta de que não
passamos de prisioneiros do mundo e de tudo que ele contém. Até hoje
acreditávamos que éramos livres, porém a meditação nos faz ver quão escravo
somos de nós mesmos.
A mente destreinada é deveras rebelde. Sem que
queiramos, ela reage, grita, critica, ataca, malicia, julga, calcula, etc,
funcionando à revelia de nossa vontade. Um dos primeiros passos no processo do
despertar é estudar, em meditação, todas essas ações reacionárias da mente
ordinária.
Os
pensamentos geram as sensações e emoções de repulsa e agrado, alegria e
tristeza, desprezo e empatia, gostar e não gostar. Enfim, toda reação mental
deve ser alvo de uma fina e sutil análise. Não se trata de pensar sobre o que
pensamos ou sentimos, e sim, observar (ou auto-observar), sem o uso da razão e
do triste ato de comparar ou julgar, todos esses sentimentos, pensamentos e
sensações.
Em
verdade, a auto-observação se parece mais com o ato de contemplar. Na contemplação
é a consciência que atua. A mente não contempla, apenas compara, analisa e
julga,
enquanto
a consciência absorve serenamente aquilo que contempla. Logo, não há desvios e
distorções.
O ato de contemplar durante a auto-observação
deve ser trabalhado, aperfeiçoado e desenvolvido através da meditação. Quem não
medita não desenvolve a capacidade de contemplação, portanto, não desenvolve a
auto-percepção e a conseqüente transformação que advém da morte dos defeitos e
condicionamentos.
A mente deve se transformar no mais polido e
perfeito dos espelhos. O espelho não retém nada, não absorve nada e não
distorce nada. Reflete a luz tal como ela surge. A mente de alguém que caminha
pela Senda da Iluminação não vive nos pensamentos do passado e tampouco se
projeta nos pensamentos do futuro.
A mente iluminada está livre das reações
mecânicas de agrado e desagrado, alegria e tristeza, fascínio pelo belo e
repulsa pelo feio. A mente iluminada é a “mente natural”, isenta dos obscuros
processos do pensamento inconsciente. Ela vive no eterno agora e descansa na
placidez onde só existe sabedoria e compaixão.
O
recordar e o projetar são distorções do presente. Os apegos, rancores, mágoas,
ressentimentos, raiva, nostalgia, gostos e prazeres são como as tempestades
oceânicas que castigam o mar e tiram a serenidade das águas límpidas e claras
da “mente natural”.
Os medos, preocupações com o que vamos fazer
ou como fazer, fantasias, sonhos, devaneios, vaidades, esperanças, ilusões e os
planos sem fundamento, são como os peixes que, ao nadarem na imensidão azul do
oceano profundo, causam distorções na serenidade mental.
Quando a mente entra em absoluto e total
repouso, advém a VERDADE, o novo, o real. Quando isso ocorre, abrimos um canal
que nos conecta com o infinito. Um canal que nos une a nossa natureza mais
elevada, o princípio e fim de tudo o que fomos e podemos vir a ser.
O homem que crê que seus pensamentos formam
sua verdadeira natureza é como o mendigo que, em sua loucura, se crê rei de uma
grande nação.
Um homem de luz certa vez disse:
“Eu
sonhei que era uma borboleta, brincando no céu; a seguir acordei. Agora eu me
pergunto: Eu sou um homem que sonhou ser uma borboleta ou sou uma borboleta
sonhando que é um homem”?
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